Estamos cansados de ouvir que é importante fazer atividade física, principalmente nesse período de isolamento, mas você sabe por que isso é tão importante? O neurologista Fabiano Moulin explica com detalhes o funcionamento do nosso cérebro e qual a importância da atividade física para ele, principalmente durante a quarentena.
Com a chuva de informações que pipocam na internet diariamente, tenho acompanhado as que são mais relevantes e as que tem a ver com o equilíbrio do corpo e da mente. Um dos canais que está alinhado com o meu propósito, é o da jornalista Mariana Ferrão, ex-apresentadora do programa Bem Estar.
Mariana tem um canal no YouTube voltado para a saúde como um todo e, para validar as informações que coloca à disposição, ela conta com a ajuda de médicos e especialistas. Um deles é o Dr. Fabiano Moulin, neurologista da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e colaborador do canal Casa do Saber.
No dia 25 de março, Mariana fez uma live com o Dr. Fabiano para falarem a respeito de um outro vídeo publicado por ele no dia 19 de março (antes do isolamento social ser adotado por nós). Nesse vídeo, Dr. Fabiano explica o funcionamento do cérebro, desde o surgimento dos neurônios até os dias atuais, bem como dá dicas do que é importante fazer para mantê-lo saudável e em equilíbrio.
Transcrevi os dois vídeos inteiros, mas vou deixar registradas aqui as partes mais importantes, ajustando a linguagem para que a leitura não fique muito extensa e técnica.
Equilíbrio da Mente e Corpo
“Vivemos tempos estranhos, a felicidade é o alvo principal da sociedade e, no entanto, quando a gente olha pra gente mesmo e para os outros, o que vemos é ansiedade, depressão e burnout. Trabalhamos por uma aposentadoria e quando olhamos para os nossos pais e avós, vemos Alzheimer, infarto e Acidente Vascular Cerebral. Onde erramos? Na verdade não erramos, a gente só não atualizou”.
De acordo com o neurologista Fabiano Moulin, existem 6 pontos que fizeram nosso cérebro chegar até aqui e que são importantes para que a gente construa um cérebro saudável:
- Atividade física
- Inteligência emocional
- Alimentação adequada
- Engajamento social
- Sono de qualidade
- Manejo do estresse
1 – Atividade física
O cérebro surgiu há 540 milhões de anos atrás, numa etapa da biologia chamada explosão ou revolução cambriana. Isso aconteceu no mar onde apareceram os primeiros neurônios.
Os primeiros seres que desenvolveram neurônios foram os que tinham movimento, dentre eles a ascídia. Dr. Fabiano explica mais sobre ela na live feita com a Mariana Ferrão, mas o que ele quer exemplificar aqui é que, enquanto a ascídia está em movimento, ela tem neurônio, mas quando ela pára de se movimentar, ela destrói o neurônio.
Com isso, chegou-se à conclusão de que estar em movimento é algo tão essencial para vida, que a natureza colocou a atividade física como critério para a saúde. É como se o cérebro dissesse: “Eu só vou investir no reparo e na adequação do órgão com o passar do tempo, se eu tiver uma sinalização adequada de que eu sou útil e de que eu estou vivo”. E essa maneira de sinalizar é a própria atividade física.
2 – Inteligência emocional
O cérebro e os neurônios aparecem, não só no movimento e na relação com o ambiente externo, mas também com o interno.
Se o primeiro ponto é a atividade física nessa relação do interno com o externo, como é meu organismo internamente? O que eu posso fazer para satisfazer o motivo pelo qual os neurônios e o cérebro apareceram, que foi para integrar esse corpo complexo internamente?
Basta entender qual é a mensagem que seu corpo manda para o seu cérebro para que vocês possam conversar. O nome da mensagem criptografada do corpo para o cérebro é a emoção. Ou seja, ela é um resumo que o corpo faz do pensamento, da vivência e da experiência que acabamos de ter, bem como se é positiva ou negativa.
Entender a própria emoção, é entender uma das principais ferramentas para a integração e para o equilíbrio entre o cérebro e o corpo.
Para isso devemos seguir os seguintes passos:
- Reconhecer que temos uma emoção. Não é fácil, pois às vezes não conseguimos reconhecer. Isso porque a gente não sabe o segundo passo: nomear.
- Nomear o que eu estou sentindo. Tédio ou tristeza? Cada um deles vai ter uma resposta diferente. A capacidade de nomear, chama-se granularidade emocional. Quanto mais eu consigo nomear de forma distinta as várias emoções positivas e negativas, mais saudável eu sou. Se eu sei entender o que está acontecendo, provavelmente eu vou responder melhor o que fazer a partir dali.
- Validar o que estou sentindo. É aí que entra uma parte interessante: a sua emoção é real, mas ela não é a realidade. Se eu sinto raiva ou desconforto quando estou na presença de alguém, eu tenho que ter muito cuidado de achar que essa pessoa é realmente ruim ou desconfortável. A minha emoção é como eu me sinto e não tem nada a ver com a objetividade da realidade. Entender talvez seja eu o problema e não o outro, pode facilitar muito as relações.
- Gerenciar o que o seu corpo está te dizendo. Você está desconfortável num lugar, pode responder de acordo ou nunca mais voltar lá, ou de repente construir um ambiente que passe a ser adequado para você. A sua percepção da emoção não é um dado único, mas é importante.
Se você for bem treinado por terapias, boas leituras e meditação, esse alinhamento fica muito melhor e naturalmente, o próprio adoecimento, é muito menor. Isso porque você está construindo saúde e um dos sinônimos de saúde é Equilíbrio.
3 – Alimentação adequada
O cérebro ficou milhões de anos do mesmo tamanho em vários seres diferentes. De repente, o cérebro explode de tamanho em nós, seres humanos. Há 2 milhões de anos atrás, o cérebro dos hominídeos tinha 500 ml, o nosso tem quase 1,5 L.
Isso ocorreu por causa de dois fatores extremamente importantes para a qualidade de vida hoje e que fizeram nosso cérebro se desenvolver lá atrás. Um foi a comida, mas não qualquer comida.
Há 2 milhões de anos atrás, nós inventamos o fogo. Uma vez manuseado, ele conseguia pré digerir a comida fora do corpo, permitindo que explorasse mais calorias do ambiente e construísse essa máquina fantástica, que é muito cara do ponto de vista energético.
O cérebro pesa só 2% do peso do corpo, mas ele custa de 20 a 25% de energia de todo o corpo. O de um recém nascido, chega a 50%. Como é que eu vou manter isso? O cozimento permitiu. No entanto, chegamos num momento da sociedade de processar tanto a comida, que a gente está adoecendo pela facilidade digestória.
Está tão fácil ter muita caloria, que estamos ficando obesos, influenciando mal as bactérias e fungos do intestino o que, consequentemente, leva à ansiedade e à depressão. O cérebro se beneficiou da facilidade do fogo, mas agora está prejudicado pelo excesso de facilidade.
4 – Engajamento social
O quarto fator, o segundo relacionado ao desenvolvimento do cérebro, foi o privilégio humano de ser sociável.
O ser humano tem muitas características diferentes dos animais. Os pássaros conseguem prever coisas, macacos conseguem ter memória de curto prazo melhor que o ser humano. Nós não temos garras, velocidade, nem força bruta melhor, mas temos a capacidade de nos unir e dessa união, construir algo muito maior.
Isso está relacionado diretamente ao tamanho do cérebro, pois ele permite viver numa sociedade grande e essa permite o desenvolvimento do cérebro. Ou seja, a ultra sociabilidade e o privilégio de ser sociável, foi fundamental para o crescimento do cérebro, e é ainda hoje. Tanto é que em toda a cultura humana, a solitária foi sempre uma punição.
O isolamento social triplica o risco de morte do idoso, duplica o risco de AVC e Alzheimer, simplesmente pondo um dos maiores alimentos ao cérebro, que é a outra pessoa. O outro é essencial para nós. Nós precisamos desse outro.
Importante: aqui cabe lembrar que o conteúdo desse vídeo foi publicado no dia 19 de março, ou seja, antes do país entrar em isolamento social de fato. Todos nós sabemos o quanto é importante cumprir o isolamento nesse momento, para que os nossos idosos e até mesmo jovens, não morram pela Covid-19. Mais para frente será falado sobre como lidar com esse fator nessa fase do isolamento forçado.
Finalmente, depois de passar por dois fatores que fizeram o cérebro aparecer e dois fatores que fizeram o cérebro se desenvolver, precisamos falar de dois fatores que fazem o cérebro ser tão adaptável.
5 – Sono de qualidade
O ser humano é o único ser que domina o planeta, de polo a polo. Nenhum outro consegue fazer a mesma coisa. O que chega próximo do ser humano em biomassa, é a formiga, só que para isso ela se desenvolveu em 18 mil espécies. E nós, a mesma espécie. Como que a gente consegue fazer isso?
Nós temos duas mídias de armazenamento de informação em nós: nosso DNA e o nosso cérebro. A formiga usou o DNA para variar informação necessária para cada ambiente, nós usamos o nosso cérebro. Por isso que nascemos tão “crus” e por isso que criança nasce tão dependente.
O motivo de nascermos tão imaturos é para que a gente possa permitir que o ambiente nos influencie. É por isso que podemos ser um esquimó ou viver num deserto. No entanto, existe um preço a ser pago para sermos tão dinâmicos: o sono.
Se queremos ser adaptáveis, ter uma boa memória, ser criativo e tomar boas decisões, precisamos dormir!
É a noite que o cérebro literalmente avalia todas as mudanças que aconteceram no dia e vê o que presta e o que não presta. Limpa o circuito que usamos durante o dia, para que no outro dia possamos fazer melhores associações e, portanto, usar o cérebro melhor ainda.
6 – Manejo do estresse
O estresse não tem nada de ruim. Ele é, por conceito, a alteração do nosso estado atual. Vontade de ir ao banheiro, sede, fome, raiva, ou seja qualquer mudança no nosso estado é caracterizada pelo estresse. No entanto, como quase tudo para o cérebro, o benefício é o equilíbrio.
- Pouco estresse = tédio – adoeço.
- Muito estresse = burnout – adoeço.
O estresse, quando perfeitamente encaixado à minha competência, é igual a tesão, vontade e engajamento. Ou o que um dos pais da Psicologia chamou: Flow (fluxo), quando conseguimos encaixar tudo isso. Não é fácil, mas é possível.
O estresse não precisa e não pode ser encarado como algo ruim, pois a faixa de crescimento do ser humano é fora da zona de conforto.
“Entenda essa equação, entenda de onde viemos, que teremos como florescer e construir uma sociedade… E individualmente sermos cada vez melhores”.
Como turbinar seu cérebro na quarentena
Esse foi o título da live da Mariana Ferrão com o Dr. Fabiano Moulin, que aconteceu no dia 25 de março. Dentre os pontos abordados nessa live, os principais foram os 6 pilares para construir um cérebro melhor (mesmos do vídeo da Casa do Saber). No entanto, mais voltados para o isolamento durante a quarentena.
Estresse na quarentena – muitos casos de ansiedade devido à “epidemia de informações”
Preste atenção na sua atenção e faça uso das mídias sociais com intenção. Não entre no Facebook ou Whatsapp aleatoriamente, pois você será sobrecarregado de informações e isso esgota emocionalmente e nos fragiliza.
Escolha o que você quer ver! Entre nas redes sociais apenas para encontrar amigos, arquive as conversas das quais você não faz parte, não desperdice energia afetiva e cognitiva nesse momento… Não vai fazer diferença saber quantos casos de coronavírus surgiram ou quantas pessoas morreram a mais.
A cura do tédio é a curiosidade e a curiosidade não tem cura
Dr. Fabiano dá seu próprio exemplo nessa quarentena. Teve que fechar o consultório e está ficando mais em casa. Desde então, ele está fazendo atividades que até então não fazia antes. Com isso ele desenvolveu a curiosidade sobre as coisas do próprio lar. Segundo ele, ao ligar o modo curiosidade, a sua casa pode se tornar um parque de diversões.
A distração é a pior praga nesse momento para a saúde mental
Se ficamos distraídos, ficamos ansiosos, tristes e o ciclo vicioso se instala. Tudo o que você fizer no seu dia vai ser uma obrigação, não algo curioso e interessante para fazer.
Um exemplo disso são as crianças, pois não existe tédio nelas. Crianças são muito curiosas, por isso devemos ter a mentalidade delas. Olhar para tudo com uma certa ingenuidade, sem o preconceito que o “ser adulto” traz e que acaba nos enferrujando e enrijecendo.
Brincar com os bichinhos de estimação ou com as crianças. Quem não tem essa opção, por morar sozinho, pode ligar para amigos e parentes, combinar determinado horário e falar todos juntos (Whatsapp, Skype, Zoom).
Essas atitudes vão ajudar a construir uma rotina do bem para que tenhamos saúde mental. Pois quando temos epidemias de qualquer tipo, a probabilidade é de termos mais problemas de saúde mental do que da doença em si.
No começo pode até ser bom não ter rotina para ver séries, assistir filmes, ler e escrever, mas se não for criada uma rotina, podemos adoecer.
É importante criar uma nova rotina sem os gatilhos antigos (acordar, escolher roupa, pegar o carro, sair de casa). Agora a rotina será outra, mas o cérebro precisa de uma estrutura, pois não pode funcionar “solto”.
O cérebro lida com a complexidade da vida de duas maneiras:
- Ignorar (que é o que a gente faz na maioria das vezes) – quando tenho certeza de alguma coisa no mundo, estou ignorando complexidades e tomando pequenas perspectivas como um todo.
- Tornar um hábito aquilo que faço com muita frequência ou o que o mundo me dá com muita frequência (acordar todos os dias no mesmo horário, escovar os dentes, tomar banho…). Só que agora mudou, pois todo aquele conforto de um trabalho mental inconsciente passa a ser consciente, sobrecarregando o cérebro.
O que vale a pena é tentar escrever uma rotina que seja adequada, criando horários para trabalho, estudo, inclusive momentos de lazer e de ligar para a família. Não deixe que isso seja de forma aleatória.
O cérebro exige um Equilíbrio (Yin-Yang) que é importante.
A vida tem algumas regularidades e algum caos. O cérebro para ir bem precisa espelhar essa vida. Eu tenho que ter alguma rotina, mas alguma flexibilidade para lidar com tudo isso. Deixar a atenção perdida, pulando de galho em galho, nos faz adoecer.
O cansaço no final do dia por exemplo representa o excesso de informações e de consumo paralelo de energia por essas abas da sua cabeça que não fecham.
A importância da atividade física para o cérebro, principalmente na quarentena
A natureza colocou a atividade física como sinalizador para o corpo de que você está vivo e que ele tem que te manter saudável. Se você parar a atividade física, junto com a sobrecarga emocional e cognitiva, vai criar o ciclo vicioso muito ruim.
A cabeça tem um limite pequeno do quanto aguenta o estresse, enquanto que o corpo tem quase o infinito. O corpo é anti-frágil, ou seja, quando é submetido ao estresse, cresce. Já a cabeça, quando submetida ao estresse elevado, adoece. A não ser que você tenha anos de terapia, meditação e sabedoria.
Se a cabeça está a mil, pára, vai fazer alguma atividade física! Correr, pegar peso, limpar a casa… Use do seu corpo para isso.
A meditação e o mindfullness, que olha para o seu próprio corpo, também é uma maneira fantástica de sincronia.
A emoção é o que o seu corpo está dizendo. É o resumo que o seu corpo está dizendo para você, do que está acontecendo na sua rotina e na sua cabeça nesse momento. Prestar atenção nisso e sincronizar o afeto, pode ser muito importante.
A história do cérebro e dos neurônios
Cientificamente falando, a vida na Terra é um fenômeno muito complexo que não é muito bem compreendida. A Terra tem quase 5 bilhões de anos e a Vida na Terra surgiu 1 bilhão de anos depois do surgimento da Terra. No entanto, ela só começa a ser multicelular (várias células grudadas), mais ou menos há 500 milhões de anos atrás, quando acontece uma etapa chamada revolução ou explosão cambriana.
Isso aconteceu há 540 milhões de anos atrás, no mar e tem o nome de explosão ou revolução, pois começaram a observar milhares de fósseis de animais dessa etapa que começaram a aparecer do nada.
Percebeu-se que os animais que tem neurônio são aqueles que tem movimento. E um desses animais caracterizando ter neurônio (não cérebro), foi a ascídia. Ela é uma esponja do mar que tem duas fases: uma em que ela está se mexendo e outra em que ela gruda na pedra.
Quando ela está se mexendo, ela tem neurônio e quando ela gruda na pedra, ela destrói (absorve) o próprio neurônio.
O que é interessante observar com isso? Desde o surgimento da ascídia, há mais de 500 milhões de anos atrás, os genes são parecidos. Ou seja, muitos dos genes que fizeram os neurônios sobreviverem, se sustentarem e permanecerem saudáveis, também são engatilhados em nós pela atividade física.
Então, a atividade física não é opcional para o corpo e para o cérebro. Ela é o sinal que damos para o corpo e para o cérebro de que precisamos manter o sistema de reparo e de manutenção.
Quando eu fico sedentário, é como se eu dissesse para o meu cérebro e para o meu corpo: “Pode morrer, pode atrofiar, pode adoecer, porque eu já não sirvo mais para nada”. Essa é uma mensagem muito pesada!
Quando eu faço atividade física, eu “machuco” meu osso e o meu músculo, só que esse machucar não é a toa. Tudo o que sai do sangue e do osso, são pedaços de proteína e hormônio que vão sinalizar para o corpo se manter bem. Eles vão estimular epigeneticamente os neurônios e os genes que permeiam a saúde e que são contrários à doença.
Ou seja, está tudo muito ligado, conectado e é por isso que vale muito a pena fazer atividade física, principalmente nessa quarentena, do jeito que der e como der.
Lembrando que exercício físico não é igual a atividade física. Manter-se ativo é uma atividade física, seja correr atrás do filho, do gato, do cachorro, limpar a casa ou mesmo lavar a louça… Isso já é uma maneira importante para conseguir o equilíbrio também.
Movimento é vida!
É a partir do movimento que eu interajo com outros seres da minha espécie. Correr atrás ou fugir do “predador”, ir atrás da presa… Para a natureza, nada é mais óbvio do que criar um alarme de vida alinhado à uma atividade mais banal que é se mover.
A natureza não imaginaria que em 2020 a gente pudesse viver num sofá, na frente de uma tela, isso nunca foi uma possibilidade. É por isso que esse desencontro genético cultural é tão pesado.
Daí as doenças de cultura:
- Diabetes e osteoporose – não existem em várias culturas, pois elas não tem o estilo de vida que a gente tem;
- Miopia – tem a ver com o nosso estímulo e a maneira com a qual a gente enxerga;
- Dentes do ciso – Já percebeu que todo mundo precisa tirar os dentes do ciso? Não faz nenhum sentido evolutivo que na savana africana todo mundo precise tirar o ciso. Isso acontece porque a gente come comida tão mole que eu não desenvolvo a musculatura arcada mandibular e eu não tenho espaço para o ciso crescer. Se você mastiga raiz crua desde criança, sua mandíbula cresce mais e tem espaço. Imagina se na savana africana há 150 milhões de anos atrás precisasse de dentista para tirar o ciso? Morria todo mundo e a gente não estaria aqui.
Por isso que é importante entender essa história de 500 milhões de anos atrás, pois ela tem vários ensinamentos.
Levando para o lado da quarentena
É muito importante estar em movimento nesse momento de isolamento, seja fazendo aulas através de vídeos online ou estabelecendo uma rotina diária de exercícios. Para isso, escolha uma atividade que gosta, acompanhe alguém que te inspira e coloque isso como hábito, não só agora, mas para a vida toda!
Muitos influenciadores estão disponibilizando conteúdos gratuitos nesse momento, diversas empresas estão facilitando as conexões… Tudo isso porque o momento é de nos ajudarmos e não de dificultar as relações.
Se a gente for anti-frágil, teremos muito a aprender, inclusive sobre nós mesmos e a quarentena pode ajudar. Quando a gente muda os hábitos, mudamos também os gatilhos do que não gostamos em nós mesmos. Hábitos alimentares, começar a meditar, fazer atividade física, melhorar o sono, é importante aproveitar tudo isso nesse momento.
Inteligência emocional
Felizmente, a ciência conseguiu olhar para esse tema de uma forma séria e científica. A emoção é a forma como o seu cérebro interpreta as informações que vem do seu corpo.
As informações que vem de fora, são captadas pelos sentidos: visão, audição, olfato, tato e paladar e são chamadas de exterocepção. O que vem de dentro, ou seja, o que o baço, o fígado e o pulmão estão me dizendo, chama-se interocepção. A emoção é um resumo de tudo o que o meu corpo está sentindo nesse momento.
Inteligência emocional é justamente a capacidade de perceber e interpretar esse resumo que o nosso corpo quer nos passar sobre nossas emoções.
Esse tema foi explicado anteriormente na parte do vídeo da Casa do Saber, no entanto aqui ele cita um outro exemplo:
Quando a gente fala sobre algum debate político, já percebeu que quando alguma coisa vai contra ao que você acredita você se fecha?
Um dos motivos para isso é que vem uma emoção ruim. Essa emoção é real, mas ela não é a realidade. Ou seja, eu posso ter te incomodado com a minha posição política, mas tenha sempre a capacidade de perceber, que talvez você não saiba tudo.
Tente se manter ensinável, para você reconhecer a sua emoção, ver o quanto ela talvez esteja atrapalhando absorver o que você está ouvindo, mas por outro lado tentar entender que por não saber tudo, essa posição diferente da minha, política, religiosa, científica, pode agregar bastante.
Quando eu confundo a realidade interna com a realidade externa, eu me fecho e aí eu não aprendo. E aí, eu impeço o mecanismo mais fantástico da vida de aprender, que é o erro, o desencontro, o desencaixe.
O oposto do acerto é o aprendizado.
Sempre nos ensinaram que um erro é uma coisa que devemos fugir. Prova é uma coisa que temos que tirar nota boa e que se você tira uma nota ruim, ela não serve como instrumento de aprendizado, mas sim um instrumento de punição e todo erro é uma punição.
Isso faz com que a gente busque a vida inteira por um ambiente onde podemos nos cercar de certezas para nos sentirmos confortáveis. Isso faz com que criemos uma mentalidade fixa, “a minha inteligência é fixa, o mundo é o que é, não tem outra perspectiva. O erro nunca existe, então o erro nunca é meu, é do outro”. Isso te aprisiona na própria cabeça.
Essa mentalidade de entender que o que importa é o aprendizado, que o que importa é o crescimento, que o erro é o aprendizado, que o erro com um bom feedback pode ser o maior instrumento de crescimento que o ser humano pode ter, é necessário agora.
Você até pode ignorar a Ciência, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a Ciência.
Para quem tem mentalidade fixa, a ciência é muito dura. Ela é muito mais como não errar do que como acertar. “A ciência é dinâmica… ela se autocritica para que possa crescer”.
Só sei que nada sei nunca fez tanto sentido.
Foi o que tornou Sócrates o homem mais sábio. Não é que não existe verdade, nós chegamos a tocar nela, mas não temos como saber absolutamente tudo. Por isso é tão importante estarmos sempre abertos e aprender a lidar com a ignorância.
A ciência aparece quando a gente deixa de tomar a própria verdade como absoluta e passa a tolerar a crítica.
Nós não somos um modelo definitivo.
Entenda-se como um modelo em andamento e que você pode crescer e se expandir e sincronizar com você mesmo e com o mundo.
A palavra sincronia é muito importante. Quem tem mentalidade fixa quer que o mundo se espelhe à mentalidade dele. Já a mentalidade de crescimento tentar adequar ele ao mundo e à dinâmica do mundo.
A sincronia previne doença e a dessincronia cria doença.
Nesse momento em que estamos em quarentena, sentimos muita falta da vida que tínhamos antes, de coisas banais que a gente não dava valor. Por isso é importante nesse momento ter gratidão, tanto pela vida de antes, quanto pela de agora.
Uma dica para conseguir enxergar gratidão nas coisas é escrever num diário as coisas pelas quais é grato, sejam elas as mais simples. Isso faz com que a gente dê valor e reviva esses pequenos momentos de gratidão. Além de ser uma outra forma de depositar a atenção sobre as boas coisas.
Criando entradas positivas no nosso cérebro.
Comparando nosso cérebro com uma conta corrente, cada coisa boa que fazemos é uma entrada e cada coisa ruim é uma energia e saúde indo embora. Tente terminar o dia com uma conta corrente positiva e a partir daí construir uma poupança para conseguir tolerar esses momentos de quebra de rotina, de quebra de expectativa.
Vai mudar para todo mundo.
Todo mundo está um pouquinho ansioso no sentido de que as expectativas já não são mais cumpridas e eu não sei mais o que vai acontecer. Mas isso vai acabar, antes tarde do que muito tarde, vai acabar. A vida vai voltar, mas não para o que era antes.
O prejuízo da economia vai acontecer, mas é melhor ter uma economia um pouquinho pior com pessoas vivas para fazer acontecer, do que a economia estar linda agora e todo mundo adoecer ou morrer em breve.
A nossa saúde é a soma de todas as contas correntes que acumulamos durante uma vida inteira.
Dependemos do que acumulamos durante a vida, temos um determinado potencial quando nos tornamos idosos e esse potencial está ligado a uma demanda do quanto precisamos usar do metabolismo.
No caso do idoso, o metabolismo basal já é próximo do limite. Então, qualquer coisa que o coloca numa situação de estresse e causa uma desorganização, pode ser suficiente para causar uma cascata de desorganização, que ele não consegue recuperar e acaba morrendo.
Eis o motivo pelo qual, contradizendo o que o Dr. Fabiano menciona no primeiro vídeo, é tão importante nesse momento fazer o isolamento social, mesmo que para o idoso isso represente um risco de morte. Pior do que morrer de tristeza ou solidão, por não poder socializar, será morrer pelos sintomas do coronavírus.
O isolamento social nesse momento é uma medida dura de prevenção da Covid-19, mas para conseguimos cumpri-lo precisamos ter em mente que é só uma fase.
Para minimizar esse sofrimento, principalmente nos idosos, precisamos redobrar a atenção, mesmo que virtual! Fazer ligações, conversas remotas e ajuda mútua. O isolamento é social, mas não precisa ser no virtual!
Vamos ter fé e fazer a nossa parte, que tudo isso vai passar!
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